sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O balão vermelho

Já não passava nesta rua há muito tempo. Demasiado mesmo. A coisa mais estranha de o voltar a fazer, tantos anos depois, é a sensação que tenho. Apesar de ter tantas coisas diferentes ainda me traz aquele sentimento de felicidade pura e simples. Mas, e há sempre um mas, essa felicidade só dura um segundo. Depois, vem a realidade que me atira um balde de água fria. Sim, começou a chover. E o pequeno sorriso involuntário que me aqueceu por dentro desapareceu tão rapidamente e de forma tão dura que ficou mais frio que antes. Abri o chapéu de chuva e continuei.
Parecia que estava num filme: mulher com vida (completamente) desastrosa anda à chuva por rua onde cresceu e em tempos, distantes, foi feliz. Mas, lá está muitas vezes, o que parece não é.
Mais à frente começo a ver setas no chão, setas vermelhas que me levam a algum lado. Essas setas passam do chão para a parede até que percebo que apontam para um daqueles cartazes de publicidade. Estava pronta para ficar desiludida, mas depois li o que dizia «Não era tão bom se pudéssemos voar!» e ao lado tem apenas a imagem de um balão vermelho.
Não sei bem porquê, mas isto fez muito sentido na minha cabeça. Normalmente as pessoas dizem que gostavam de voar como um pássaro, mas para isso temos ao menos de saber para onde vamos ou o quê que queremos. Portanto, eu não quero voar como um pássaro. Quero, sim, voar como um balão, um balão vermelho, que depois de ser largado, anda à deriva, ao sabor do vento, até que desaparece. Para onde será que vão os balões? Apenas os conseguimos ver até um certo ponto, e depois? Se calhar continuam a voar e ainda estão algures no universo. Quero acreditar que sim.

Rita Gonçalves, 12ºC

O balão vermelho

Geralmente, os balões simbolizam alegria, contentamento, satisfação, mas deixá-los ir não é fácil para quem os aprecia. As despedidas em qualquer faixa etária nunca são justas mas necessárias.
As opiniões dividem-se. Talvez alguns achem que custa imenso e ponderam sobre aquilo que devem fazer. E, outros acreditam que é tudo passageiro, que as coisas são o que são e o melhor mesmo é não pensar pois “o mundo não se fez para pensarmos nele, mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”.
De facto, ver algo a dissipar-se da nossa vida aborrece-nos sempre de uma maneira ou de outra. O desapego, intrinsecamente, traz consigo o seu ritmo lento, que o caracteriza como uma perda angustiante e aflitiva.
Decides pegar num chocolate quente, encostas--te no teu sofá lentamente como quem acompanha o ritmo das emoções. Porém, parece que tu ainda não estás plenamente satisfeito. A tua mente está saturada de pensar e dar voltas e voltas para que encontres respostas às intermináveis perguntas e perguntas para as respostas que te deram e que tu, no entanto, não questionaste.
Sais à rua acompanhado pelo teu balão vermelho. Já não te faz qualquer companhia. Está longínquo, ainda que tu estejas forçosamente a agarrar o seu fio já enfraquecido de tanto uso.
Há muito tempo, que os teus pensamentos te deixavam atormentado com esta ‘sentença’. Finalmente decidiste tomá-la. Deixaste-o ir. Olha, todos nós precisamos da nossa liberdade para viajar para outros rumos, é indispensável a qualquer um. Todos, sem exeção.
Sabes quando olhas para um lugar e te despedes com os olhos pois tens a certeza que não vai haver oportunidade de voltares ou já não há essa necessidade? Foi o que eu vi. Fitaste-o durante alguns segundos, mas o mais sensato foi voltares a caminhar e dirigires-te para casa. Na realidade, o que não quer ser esquecido, jamais se ausenta.

Adriana, 12º C

Desafio 1


Um dos primeiros desafios do ano partiu da visualização do filme "O Balão Vermelho"...

Ano letivo 2015 / 2016

O ano letivo 2015 /2016 tem sido bastante produtivo em termos de criação literária... O clube de escrita criativa publica, agora, alguns dos textos produzidos pelos alunos do 2º ciclo e do Secundário que, para além do espaço, têm partilhado ideias, experiências, leituras, sugestões, ...

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Tu e ela. Tu e nada. Sei que nunca antes tinhas experimentado essa sensação. Alguém, talvez ninguém, tinha acabado de estabelecer uma conexão contigo. Alguém, que nem sequer sabia da tua existência, já te tinha marcado. E sabes o que é mais engraçado? Nem tu sabes como. Dizem que na vida, por vezes, temos a sorte de nos cruzar com almas gémeas, pessoas que, logo ali, no primeiro segundo, são capazes de se ligar a ti. Pessoas com as quais se cria um elo mágico, indescritível. Queres saber o que eu acho? Acho que tu tiveste essa sorte. Tu e ela.
Como poderia um sentimento assim terminar sem mais nada? Claro que não podia, claro que estavas destinado a cruzar-te com ela minutos mais tarde, naquela rua, naquela quente tarde de julho. Não duvido de que foi também o destino que se encarregou de vos juntar e permitiu o casamento com que há tanto sonhavas. Entretanto passaram dez anos. E ontem, sim, ainda ontem, algo te fez voltar a pegar naquela velha foto. Aquele pedaço amarelado de cartolina que com tanto amor tens mantido contigo. Tanta coisa mudou. Ela própria mudou. Mudou contigo tal como tu mudaste com ela. Sabes, eu já tenho reparado em como te perdes tanta vez a olhar para essa imagem. E noto que, de cada vez que a observas, o teu olhar é distinto porque eu sinto, e tu sentes, que sempre que a vês estás a descobrir algo de novo. Só que ontem foi diferente. Ontem reparei que, ao olhares para ela, te reencontraste com a rapariga de sorriso inocente e estático, parada a olhar para ti. Ontem vi em ti que, dez anos mais tarde, o mundo voltou a desfocar, as pessoas à volta deixaram de se mover e nada mais se atreveu sequer a mexer, não fosse esse momento ser arruinado. Finalmente encontraste a rapariga da foto. Finalmente, encontraste aquilo que durante dez anos deixaste que se fosse perdendo. Vi a mágoa no teu olhar e percebi o quanto a amavas. Percebi a desilusão que sentias por teres permitido que a magia não continuasse. Tive vontade de te abraçar e dizer-te que a culpa não foi só tua, também foi dela. Quis dizer-te que nada disso era importante, que o que realmente interessa não são as memórias do passado mas as oportunidades do futuro. Quis correr para ti e fazer-te perceber que juntos, tu e ela, iriam voltar a mostrar ao mundo a sorte que tinham em ter encontrado, cada um, a sua alma gémea. Juntos, tu e eu, poderíamos provar isso. Mas o tempo não espera e o ontem, que tinha os seus dez anos, deu lugar ao hoje com os seus vinte. O relógio não esperou, o mundo continuou a rodar, as pessoas a andar e ninguém mais se lembrou de nós nem daquela rua… ninguém mais quis saber do nosso momento e ninguém mais se importou que ele fosse arruinado.
Eu ainda continuo cá. Infelizmente sou só eu… E tu? Tu estás lá e não cá, lá com aquele pedaço de cartão, com aquela imagem que, há vinte anos, se tornou parte de ti. Tu e ela. Tu e nada.

Inês Catarina, 12ºC
Quinto desafio: continuar o texto que se segue!

        Uma fotografia na rua

        Encontrei a primeira fotografia na segunda-feira do mês de julho, pouco depois do meio dia. Estava caída no passeio, em frente do edifício da reitoria, e vi-a por acaso. Ao baixar-me para pegar naquele pequeno pedaço de papel retangular vi que, tal como pressentira no primeiro momento, se tratava de uma fotografia de passe. E foi então, parado no meio do passeio, que experimentei um intenso arrepio interior que acelerou subitamente o bater do coração. Senti-me como se de repente me tivessem transferido para outro lugar onde a realidade se desfocava e desapareciam as pessoas que caminhavam à minha volta, como se apenas existisse eu e o bocado de cartolina em que concentrara o olhar. (...)

Agustín Fernández Paz, Só resta o Amor

quarta-feira, 1 de abril de 2015

[Palavras: padeiro - planeta - guilhotina - execução]

Sempre, todos os dias e à mesma hora, entrevia pela janela da cozinha o padeiro.
De cabelo curto e grisalho, farto de levar ao forno as tão desejadas delícias da padaria, o Sr. José abordava-me sempre, fazendo-me um gesto de bom dia. Tinha um ar misterioso que lhe conferia um ar mais jovem do que a sua aparência.
Frequentemente, inúmeras pessoas deslocavam-se à padaria do José. No entanto, esta assumia algumas particularidades que deixavam os clientes insatisfeitos. A mais discutida entre todos era o encerramento da padaria muito cedo, ou melhor dizendo, mais cedo do que as outras.
Todavia, esta situação admitia uma razão… antes mesmo de ser aceitável era, antes de mais, alheia comparativamente a todas as outras que ouvira até então.
Certo dia, dirigi-me à padaria do Sr. José e, como era de esperar, o estabelecimento já se encontrava fechado. Reparei que a porta das traseiras, que dava acesso ao local onde estavam os fornos, estava entreaberta.
Previsivelmente, José encontrava-se a fazer pão. Porém, os pães que chegavam do forno demonstravam uma forma irregular e, no centro dos pães, afigurava-se um rosto de um ser estranho. Não reconheci imediatamente os rostos, mas posteriormente conclui que, talvez, fossem extraterrestres ou outro tipo de espécies vindos de outro planeta. Tais inferências deixaram-me apreensiva.
O Sr. José já se encontrava em pânico, trémulo do medo que lhe consumia a alma e a mente. Parou de caminhar à volta da mesa, agarrou-me por um braço, puxando-me e sentando-me numa cadeira.
Compreendi o estado de José, após este me confessar o seguinte:
“Menina, minha querida menina, peço-te ou imploro-te, que o que te digo fique apenas entre nós. Atordoada pelas imensas ideias que me ocorriam à mente, acenei a cabeça.
Estes pães que observas em cima dos tabuleiros destinam-se a uns amigos que me fornecem ingredientes. Em troca, apenas lhes ofereço alguns.
Normalmente, aterram na pista de São Minimenos por volta das 17 horas e é por isto que todos os dias fecho a minha padaria mais cedo.”
Fiquei perturbada, mas restava-me apenas prometer-lhe que o seu segredo nunca iria ser revelado. Contudo, não foi necessário revelá-lo, pois outra pessoa, mais cruel e infame, descobrira o que o padeiro temia.
Por conseguinte, semanas depois, o Sr. José tinha desaparecido e os extraterrestres eram capturados e julgados na guilhotina. Publicamente, na Praça de São Jerónimos, as cabeças destes seres rolavam à vez, onde a população ria, vendo o espetáculo mais desejado do mês.
Minutos mais tarde, deparo-me a observar fixamente a caixa de cereais que retratava bastante bem os rostos dos tais seres estranhos. A mão já quase dormente descaí-me com o peso da colher. Voltava ao meu mundo real…

Adriana