[Palavras: padeiro - piano - rapto - Egito]
Era uma vez, numa
terra muito distante, um padeiro que ambicionava ser pianista. Nunca fora
levado a sério quando dizia aquilo que na verdade queria fazer, acabando por
nunca ir para além daquilo a que pensava que estava preso: à sua sala de estar.
Naquele dia,
acordara tranquilamente esperando, pois claro, um dia vagamente interessante,
na sua monótona vida de padeiro e pai.
Levantou-se da sua
simples cama de linho e, vagarosamente, desceu as escadas, dando de caras com a
mulher, Filomena.
- Joel, já
acordaste a Larissa? - a mulher de olhos azulados perguntou, ao mesmo tempo
dando um gole no seu café. Ele, nervosamente, retorquiu que não, correndo de
seguida até ao quarto da pequena.
Quando lá chegou,
Larissa já se encontrava pronta, com um sorriso largo no rosto.
Pegou na criança e
levou-a até à cozinha, onde, na mesa já se encontrava um ótimo pão caseiro, com
um pouco de manteiga.
- Desculpa Larissa,
não tive dinheiro para te comprar um leite. - murmurou Filomena, olhando para a
conta da luz espantada.
A família do
padeiro era muito pobre, mas muito orgulhosa, por isso, nunca pediu ajuda a
ninguém, encontrando-se muito endividada. Com apenas uma pessoa da família a
trabalhar, eles viviam numa situação de bastante desespero, tendo dinheiro apenas
para pão e leite.
Filomena já
reclamara muitas vezes com Joel por ele nunca vender o piano que tinham na
sala, mas o homem parecia que estava colado ao instrumento: recebera-o quando
era jovem e foi com aquele piano que aprendeu o quão maravilhoso é fazer música…
não se queria despedir dele.
- Joel, vais ter de
te livrar do piano. – Disse-lhe a sua mulher, olhando para os papéis que
continham as contas deles.
Joel acenou que não,
com a cabeça, e a mulher mostrou-lhe os papéis:
- Vês? Nós nem
conseguimos pagar metade do que nos pedem! E aquele piano era a única coisa que
nos podia dar dinheiro suficiente para pagar as dívidas. Eu sei que gostas
muito dele, mas pensa na Larissa, em mim... e em ti.
Joel olhou para baixo, e retorquiu que sim. Ele
sabia que se negasse a venda, estaria a ser um egoísta e, por mais que amasse o
piano e a música, amava mais Larissa e Filomena.
No dia seguinte,
Joel acordou muito triste. Era o dia em que levavam o seu precioso piano. Ia
ser vendido a um grande músico, que adorava pianos antigos; como se diz, vintage.
Acordou bem cedo
para poder passar o máximo de tempo que conseguisse, antes de levarem o piano. Desceu as escadas e foi até à
sala de estar. Lá estava ele. Sentou-se no banco e começou a tocar.
Que sensação
maravilhosa que é tocar… é como se os dedos fossem aves voadoras, a planar no
céu azul, e a melodia que faziam... maravilhosa! Como ter uma pequena história,
e contá-la da forma mais artística que se consegue. A música pode ser triste,
feliz, calma, lenta. A música tem sentimentos, como o ser humano, e com ela o
Homem exprime tudo o que lhe vai na alma, como um diário.
- Toca muito bem,
senhor. - Joel ouve uma voz atrás dele. Olhou para trás e viu o músico
encostado à ombreira da porta.
- Já alguma vez pensou em ser músico?
- B,
bem...n, não... - gaguejou ele, muito nervoso.
- Olhe, devia
pensar. Tem muito talento! - O homem sorriu, e continuou:
- E digo-lhe mais:
quer atuar comigo para a semana, num dueto?
Joel estava
pasmado. Como passaria ele, o padeiro endividado “até aos cabelos”, a atuar com um dos
pianistas mais idolatrados de todo o mundo. Certamente iria receber muito
dinheiro, e não tinha de se livrar do piano. E talvez, talvez… deixasse aquela
vida monótona de simples padeiro, para passar a pianista famoso, rico, e realizasse o seu sonho. Claro que ia dizer que ...
-Sim! - exclamou
ele sorrindo e dando um aperto de mão ao senhor.
- Não se arrependerá,
meu bom homem. Será bem pago, prometo-lhe.
- E vai ser onde?-
interrogou Joel.
- No Egito, junto
das pirâmides!
Tinham passado três
dias desde que falara com o músico; encontrava-se já no avião, pronto para
descolar, com destino ao Egito. Sentado à sua beira, encontrava-se o pianista,
a explicar-lhe como iria ser o concerto e o que eles iriam tocar.
- Conheço essa
música - afirmou Joel, murmurando o ritmo.
Passados dois
dias...
Estava dentro de
uma sala escura, todo amarrado e com fita-cola na boca. Estava atordoado e não
reconhecia nada o do que estava à sua volta. Com muito esforço, levantou-se e começou
aos pulinhos, vagueando pela sinistra divisão, até ouvir uma voz familiar:
- Então, quando é
que nos vamos livrar dele?- era a sua mulher que falava.
- Hoje à tarde,
amor. Sabes que eu não gosto de apressar as coisas. Retorquiu o famoso músico.
Ouviu passos na sua
direção. Depressa se escondeu por detrás de umas caixas (bem, pareciam caixas,
mas ao escuro, nem dava para perceber) e esperou, agachado.
Passadas 2 horas...
Estava agora a fugir
de dois homens armados. Os seus pés doíam-lhe e estava fraco e cansado. As
pernas vacilavam, e os homens aproximavam-se cada vez mais. Achou que era a sua
hora.
A mulher traíra-o,
o músico não gostava do seu tocar de piano, … viver mais, para quê? Fazer pão?
Passar necessidades?
Passadas duas
semanas...
No jornal
Um homem foi
assassinado no Egito, pelo famoso músico Charlie Kosgrovina, que se encontra
agora preso, juntamente com a esposa da vítima, pois foi cúmplice do
assassinato.
Jasmin, 7º ano