[Palavras: padeiro - planeta - guilhotina - execução]
Sempre, todos os dias e à mesma hora, entrevia pela janela da cozinha o padeiro.
Sempre, todos os dias e à mesma hora, entrevia pela janela da cozinha o padeiro.
De
cabelo curto e grisalho, farto de levar ao forno as tão desejadas delícias da
padaria, o Sr. José abordava-me sempre, fazendo-me um gesto de bom dia. Tinha um
ar misterioso que lhe conferia um ar mais jovem do que a sua aparência.
Frequentemente,
inúmeras pessoas deslocavam-se à padaria do José. No entanto, esta assumia
algumas particularidades que deixavam os clientes insatisfeitos. A mais
discutida entre todos era o encerramento da padaria muito cedo, ou melhor
dizendo, mais cedo do que as outras.
Todavia,
esta situação admitia uma razão… antes mesmo de ser aceitável era, antes de
mais, alheia comparativamente a todas as outras que ouvira até então.
Certo dia, dirigi-me à padaria do Sr. José e, como era
de esperar, o estabelecimento já se encontrava fechado. Reparei que a porta das
traseiras, que dava acesso ao local onde estavam os fornos, estava entreaberta.
Previsivelmente,
José encontrava-se a fazer pão. Porém, os pães que chegavam do forno demonstravam
uma forma irregular e, no centro dos pães, afigurava-se um rosto de um ser
estranho. Não reconheci imediatamente os rostos, mas posteriormente conclui
que, talvez, fossem extraterrestres ou outro tipo de espécies vindos de outro planeta.
Tais inferências deixaram-me apreensiva.
O Sr.
José já se encontrava em pânico, trémulo do medo que lhe consumia a alma e a
mente. Parou de caminhar à volta da mesa, agarrou-me por um braço, puxando-me e
sentando-me numa cadeira.
Compreendi
o estado de José, após este me confessar o seguinte:
“Menina, minha querida menina, peço-te
ou imploro-te, que o que te digo fique apenas entre nós. Atordoada pelas imensas ideias que me ocorriam à
mente, acenei a cabeça.
Estes pães que observas em cima dos
tabuleiros destinam-se a uns amigos que me fornecem ingredientes. Em troca, apenas
lhes ofereço alguns.
Normalmente, aterram na pista de São
Minimenos por volta das 17 horas e é por isto que todos os dias fecho a minha
padaria mais cedo.”
Fiquei
perturbada, mas restava-me apenas prometer-lhe que o seu segredo nunca iria ser
revelado. Contudo, não foi necessário revelá-lo, pois outra pessoa, mais cruel
e infame, descobrira o que o padeiro temia.
Por
conseguinte, semanas depois, o Sr. José tinha desaparecido e os extraterrestres
eram capturados e julgados na guilhotina. Publicamente, na Praça de São
Jerónimos, as cabeças destes seres rolavam à vez, onde a população ria, vendo o
espetáculo mais desejado do mês.
Minutos
mais tarde, deparo-me a observar fixamente a caixa de cereais que retratava
bastante bem os rostos dos tais seres estranhos. A mão já quase dormente
descaí-me com o peso da colher. Voltava ao meu mundo real…
Adriana
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