Já não passava nesta rua há muito tempo. Demasiado mesmo. A
coisa mais estranha de o voltar a fazer, tantos anos depois, é a sensação que
tenho. Apesar de ter tantas coisas diferentes ainda me traz aquele sentimento
de felicidade pura e simples. Mas, e há sempre um mas, essa felicidade só dura
um segundo. Depois, vem a realidade que me atira um balde de água fria. Sim,
começou a chover. E o pequeno sorriso involuntário que me aqueceu por dentro
desapareceu tão rapidamente e de forma tão dura que ficou mais frio que antes.
Abri o chapéu de chuva e continuei.
Parecia que estava num filme: mulher com vida (completamente)
desastrosa anda à chuva por rua onde cresceu e em tempos, distantes, foi feliz.
Mas, lá está muitas vezes, o que parece não é.
Mais à frente começo a ver setas no chão, setas vermelhas que
me levam a algum lado. Essas setas passam do chão para a parede até que percebo
que apontam para um daqueles cartazes de publicidade. Estava pronta para ficar
desiludida, mas depois li o que dizia «Não era tão bom se pudéssemos voar!» e
ao lado tem apenas a imagem de um balão vermelho.
Não sei bem porquê, mas isto fez muito sentido na minha
cabeça. Normalmente as pessoas dizem que gostavam de voar como um pássaro, mas
para isso temos ao menos de saber para onde vamos ou o quê que queremos.
Portanto, eu não quero voar como um pássaro. Quero, sim, voar como um balão, um
balão vermelho, que depois de ser largado, anda à deriva, ao sabor do vento,
até que desaparece. Para onde será que vão os balões? Apenas os conseguimos ver
até um certo ponto, e depois? Se calhar continuam a voar e ainda estão algures
no universo. Quero acreditar que sim.
Rita Gonçalves, 12ºC