quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ninguém


Se assim fosse, seria perfeito. Um lugar onde o sol brilha durante o dia, acompanhado pelo som dos pássaros que assobiam docemente por entre os ramos fortes. Um lugar onde os dias são quentes e as noites mais frescas. Um lugar onde a lua brilha, acompanhada por milhões de sóis a milhões de anos luz. Um lugar… apenas nós os dois sentados à beira-mar, a conversar durante horas e horas, onde o nosso amor cresce, parecendo não ter fim.
Mas não. O sol que deveria estar a brilhar no céu, mal se vê devido a tantas nuvens negras que choram e gritam mais do que eu. A noite que deveria ser fresca e iluminada pela lua está mais escura do que nunca, numa combinação perfeita entre nevoeiro e iluminação fraca e intermitente, devido ao maldito candeeiro do outro lado da rua. Nós? Não existe “nós”. Existe um “eu” e um “tu” onde ódio e rancor são projetados das nossas bocas como flechas, lançadas contra os nossos corações… flechas que nos perfuram de um lado ao outro, tirando-nos tudo o que existe de bom.
            Quem me dera que não tivesse de ser assim… mas sinto que aquele fundo negro, onde estou prestes a mergulhar, será a única possível solução. Mas até esta ideia que me ocorre já deve ter ocorrido a alguém… Era isso que queria. Era isso que queria ser, ALGUÉM. Mas alguém não posso ser, porque alguém nunca fui. Sou eu. Apenas eu. Ninguém.

Valter Ferreira

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