Se assim fosse, seria
perfeito. Um lugar onde o sol brilha durante o dia, acompanhado pelo som dos
pássaros que assobiam docemente por entre os ramos fortes. Um lugar onde os
dias são quentes e as noites mais frescas. Um lugar onde a lua brilha, acompanhada
por milhões de sóis a milhões de anos luz. Um lugar… apenas nós os dois
sentados à beira-mar, a conversar durante horas e horas, onde o nosso amor
cresce, parecendo não ter fim.
Mas não. O sol que deveria
estar a brilhar no céu, mal se vê devido a tantas nuvens negras que choram e
gritam mais do que eu. A noite que deveria ser fresca e iluminada pela lua está
mais escura do que nunca, numa combinação perfeita entre nevoeiro e iluminação
fraca e intermitente, devido ao maldito candeeiro do outro lado da rua. Nós?
Não existe “nós”. Existe um “eu” e um “tu” onde ódio e rancor são projetados
das nossas bocas como flechas, lançadas contra os nossos corações… flechas que
nos perfuram de um lado ao outro, tirando-nos tudo o que existe de bom.
Quem me dera que não tivesse
de ser assim… mas sinto que aquele fundo negro, onde estou prestes a mergulhar,
será a única possível solução. Mas até esta ideia que me ocorre já deve ter
ocorrido a alguém… Era isso que queria. Era isso que queria ser, ALGUÉM. Mas
alguém não posso ser, porque alguém nunca fui. Sou eu. Apenas eu. Ninguém.
Valter Ferreira
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