sábado, 3 de janeiro de 2015

Conto de Natal

Era noite de Natal. Eu olhava em redor, sobressaltado, em busca de um sítio onde me pudesse abrigar do frio que se espalhava pelo meu corpo, já gélido e cor de cal. Mas algo me despertou a atenção. Era uma janela de uma casa, já distante. A luz era algo que eu não me habituara nunca a ver. Nem nunca vira. E a luz é felicidade, alegria, paz de espírito… bem, era o que me diziam os livros que lia na biblioteca. Sempre tentei ver alguma, mas não dava. Nunca tive uma lâmpada em minha casa, visto que… bem… nunca tivera uma casa.
Aproximei-me mais um pouco daquela janela e começou a cheirar a peru. Uau, como eu adorava peru! Já há alguns bons anos que não comia, mas nunca me esqueci, nem do cheiro, nem do sabor. Mais à frente, comecei a ouvir risos de crianças. Há quanto tempo eu não ria? Há muito…nem me lembrava da última vez que simplesmente esboçara um sorriso, ou que subira um pouco os cantos da boca. Não dá vontade de sorrir, com a vida que levo. Só dá vontade de desistir de tudo.
- Mamã, mamã!- dizia uma menina. Olha, um menino está a espreitar pela janela!
 Ao ouvir isto, uma senhora alta abriu-me a porta. Ela parecia meiga e muito serena. Tinha uns grandes olhos cor de safira, muito brilhantes e um sorriso afável, como tinha a minha mãe.
- Olá, rapaz!- disse ela, despenteando-me o cabelo. – Como te chamas?
- B...bem… - murmurei - não sei… A simpática senhora olhou para mim com muita pena. Ajoelhou-se, e pondo-me as mãos nos ombros, proferiu:
- Bem, eu sempre quis ter um filho chamado Martin. Eu sou a Marta, e aquela menina ali… é a Esmeralda. Queres entrar?
- A sério?! - exclamei eu.
- Claro! Vou apresentar-te ao meu marido, e aos meus outros filhos. Entra, Martin… Posso chamar-te Martin, certo?
Acenei timidamente a cabeça. Entrei para dentro de casa e vi tudo enfeitado: luzes, as meias, até a árvore de Natal! Nunca tinha visto tanta luz na minha vida.
Olhei em redor e vi a mesa posta com cinco pratos. No centro, estava um peru enorme, com recheio. Servidos, estavam também batatas cozidas e um leite creme… com tão bom aspeto!
- Bem, Martin - disse a afável senhora - este aqui é o meu marido, Carlos. Eu falei-lhe agora sobre ti.
- Olá, pequeno! - exclamou o homem alto e robusto - Parece que hoje vens cá passar o Natal! O teu papá e a tua mamã?
Olhei para o chão. Uma lágrima escorreu-me pelo rosto e caiu no chão. Senti uma mão no ombro e olhei para cima. Era o senhor, que sorria.
- Não faz mal. O que interessa é que temos de pôr mais um prato na mesa!Eu sussurrei um pequeno “ok” e fui de mão dada com a senhora Marta até a uma grande sala, cheia de brinquedos. Lá, além de Esmeralda, estavam mais duas meninas.
- São a Jasmim e a Safira. Têm cinco anos. E tu, quantos anos tens?
- Bem, acho que tenho sete… não tenho bem a certeza.
- Não interessa, vai brincar com elas. E esboça lá um sorriso, Martin! Agora tens uma família!
Olhei em volta. Luz! Vejo luz! Tenho dentro de mim felicidade, alegria, paz de espirito! Tirei de mim a dor, o sofrimento, a solidão!
E sorri. Melhor que o sabor do peru, do cheiro das batatas, do leite creme… a melhor coisa que pude recuperar foi a alegria de viver. O sorriso. E não vou voltar a perdê-lo.

                                                                                                                                                     Francisca Firmino, 7ºC

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